segunda-feira, 22 de junho de 2009

MISSA DO MIGRANTE

Brasil: Um País de Migrantes
A história do povo brasileiro é uma história de migrações, da busca contínua pela conquista da sobrevivência. As migrações não ocorreram ou ocorrem por causa de guerras, mas pela inconstância dos ciclos econômicos e de uma economia planejada independentemente das necessidades da população. A Igreja procurou peregrinar com o seu povo, mas nem sempre conseguiu, quer por falta de quadros, quer pelas limitações de visão pastoral.
O POVO É VÍTIMA
A economia brasileira teve como maior fundamento a surpresa e o não-planejamento. O povo correu atrás da economia e esta não o levou em conta, a não ser como mão-de-obra. O primeiro ciclo foi o do pau-brasil, e os índios acabaram escravos. Veio o ciclo da cana-de-açúcar e, além do índio, escravizou-se o negro africano. Seguiu o ciclo do ouro e das pedras preciosas, e milhares de brancos pobres, índios e negros padeceram nas jazidas. Com a chegada do ciclo do café, achou-se melhor mandar embora o negro e trazer para as fazendas mão-de-obra barata da Europa e do nordeste.
O ciclo da borracha atraiu para a Amazônia os nordestinos fugidos da seca e da miséria. Finalmente, o ciclo industrial fez com que os camponeses migrassem para a cidade.
Assistiu-se, dessa forma, à corrida dos trabalhadores para as regiões que prometiam fartura e sossego, mas encontraram somente a exploração barata e rigorosa de sua força.
UM POVO DESENRAIZADO
Segundo estudos de José O. Beozzo, em 1980, 40 milhões de brasileiros viviam num município diferente de onde tinham nascido. E isso sem contar as transferências dentro de uma mesma municipalidade: da roça para a cidade e de uma roça para outra. Isso daria quase o dobro de migrantes.
Os números são frios e escondem uma realidade bem mais dura: o migrante é aquele que perde sua raiz, seu chão natal, o contato com os parentes, os amigos, sua igreja, suas festas...
ÍNDIOS E NEGROS
Os povos indígenas foram os primeiros brasileiros forçados à migração. Levados à força para o trabalho agrícola, foram privados de seu chão. Os índios que não fugiram para o interior, foram escravizados para plantar na terra que há pouco era sua.
Os bandeirantes são o maior símbolo do extermínio e escravização desses povos. Os imigrantes europeus, que receberam no Sul terras supostamente vazias, pois índio não era considerado gente, também combateram os indígenas.
A migração indígena continua, tanto pela invasão dos garimpeiros, como pela expansão da agro-indústria. Hoje se fixam nas beiras de estradas ou vivem favelados em zonas urbanas. De 5 milhões no século 16, hoje são 325 mil.
Não menos dura foi a sorte dos negros trazidos escravos para as plantações de cana-de-açúcar, para a mineração e os trabalhos domésticos. O negro perdeu o país, a tradição, a família, a língua e a religião. Felizmente, muitos deles conseguiram preservar suas tradições humanas e religiosas.
Quando a mão-de-obra escrava encontrou a oposição internacional, encontrou-se um meio mais econômico para as grandes fazendas de café: o imigrante europeu. Se o escravo negro precisava ser comprado, vestido, alimentado e ter moradia e amparo na velhice, o europeu era diarista: trabalhava por uma diária, o que era mais barato. Assim, após a Lei Áurea de 1888, muitos negros acabaram indo para as periferias urbanas.
Houve também negros que retornaram à África, uns 10 mil, onde constituíram bairros brasileiros e mantiveram o catolicismo. Os cerca de 5 milhões os negros trazidos da África aumentaram tanto ao ponto de hoje negros e mulatos constituírem 40% da população brasileira.
OS POBRES QUE VÊM DA EUROPA
Vieram primeiramente os portugueses: uns para enriquecer e outros para sobreviver ou cumprir pena. Permanecia para o governo português o problema da mão-de-obra e da ocu.
No início do século 19, evidenciou-se um problema racista: a supremacia das raças. Atribuiu-se a miséria e a violência à "raça" brasileira. O negro, mulato, índio, teriam características genéticas atrasadas, era necessário então embranquecer o Brasil. A importação de brancos, especialmente de alemães, era o melhor caminho para o progresso. Nem os chineses serviam. Depois de muita discussão e imigração, em 20 de junho de 1890 se aprova a lei de imigração, aceitando todos, "menos os indígenas da Ásia e da África". Ainda em 1945, Getúlio aprova um decreto reforçando a necessidade da vinda de mais europeus. Um país de pobres selecionando pobres.
Entre 1871 e 1920, o Brasil recebeu 3,3 milhões de imigrantes, provenientes da Alemanha, Itália, Portugal, Ucrânia e Polônia. Na década de 30, houve imigração maciça de japoneses. Também vieram coreanos, chineses, libaneses e turcos. Normalmente os imigrantes faziam parte dos empobrecidos de suas pátrias, pela falta de terras e de empregos. Alemanha e Itália devem seu crescimento a seus filhos que foram embora.
Os imigrantes foram levados para trabalharem como braçais nas fazendas de café em São Paulo, Rio, Minas e Espírito Santo. Outros passaram a trabalhar nas indústrias. Os que vieram para os estados do sul se dedicaram à agricultura, à indústria e fundaram muitas das cidades desses estados.
MIGRAÇÕES INTERNAS
Em nível interno, o nordestino é o migrante brasileiro por excelência. Vítima das secas ou da exploração latifundiária, foi para a Amazônia explorar a borracha. Neste século foi o responsável pelo desenvolvimento da indústria e construção civil em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Brasília. Assim que pode, ele retorna ao seu nordeste: lá está sua raiz, seu chão natal. Lá é que sua vida tem sentido!
A partir da década de 30, promoveu-se a Marcha para o Oeste, com a ocupação do MT e GO. Em seguida, dos estados de RO, AC, RR, etc. Gaúchos, catarinenses, paranaenses, paulistas e outros fundaram e fundam novas comunidades, dedicando-se à agropecuária.
A grande migração do final do milênio é o êxodo rural, com o inchaço das cidades e o empobrecimento de tantas famílias que na roça tinham do que viver. Em três décadas, a população brasileira mudou de 80% no meio rural para 80% no meio urbano.
Causa disso: a sedução da cidade, melhores condições para a educação dos filhos, a falta de terra e a perda da propriedade pela hipoteca bancária... Não há uma política convincente para se fixar o homem na roça.
A IGREJA E OS MIGRANTES
Foi e é notável o esforço da Igreja - católica e protestante - em acompanhar seus filhos. Sacerdotes, religiosos e religiosas também se fazem migrantes com seu povo.
No século 18, foram os padres açorianos e, no século 19 e 20, portugueses, italianos, alemães e poloneses que atenderam religiosamente seus compatriotas. O mesmo se deve dizer dos pastores protestantes alemães e dos padres da Igreja Católica Ortodoxa.
A imigração colocou a Igreja brasileira diante de uma nova realidade religiosa, devida à presença de populações não católicas.
Inicialmente, católicos e protestantes gostavam de se atacar, mas depois chegou-se a uma vivência fraterna. Se a doutrina pode causar discórdia, a busca pela vida une.
Pe. José A. Besen

Abaixo, fotos da Missa do Migrante na Paróquia Nossa Senhora da Assunção, com cânticos típicos e o Frei Miro trajado à caráter para celebrar a missa.